Estima-se que a transição para a economia circular possa levar ao crescimento de US$ 4,5 trilhões no PIB em todo o mundo até 2030. Os benefícios sociais também são numerosos, o que tornará mais fácil abrigar, alimentar e vestir os 8,5 bilhões de pessoas que devem habitar o planeta até lá. Mas como as empresas podem entrar nessa?

Por Holger Rubel , Marc Schmidt e Alexander Meyer zum Felde. Originalmente publicado na Página 22.

Os líderes corporativos cada vez mais enxergam o valor empresarial e social das estratégias para reutilizar e reciclar recursos e, portanto, caminham para o que é conhecido como uma “economia circular”. Essa abordagem repensa o modelo econômico tradicional do uso de insumos e disposição de resíduos e prevê um novo modelo que seja regenerativo, por meio do design.

Os benefícios de aderir à economia circular vêm de muitas maneiras. As inovações que promovem a reutilização de recursos podem, por exemplo, tornar as empresas menos dependentes de insumos escassos, aumentar a eficiência operacional, promover mais inovações e possibilitar novas ofertas que atraiam clientes e aprofundem os relacionamentos existentes. Estima-se que a transição para a economia circular possa levar ao crescimento de US$ 4,5 trilhões do PIB em todo o mundo até 2030. Os benefícios sociais também são numerosos, o que tornará mais fácil abrigar, alimentar e vestir os 8,5 bilhões de pessoas que devem habitar o planeta até 2030.

Mas, como avançar a partir daqui?

Em 2017, o World Business Council for Sustainable Development e o Boston Consulting Group uniram forças para entender melhor como as empresas líderes estão implementando iniciativas circulares. A pesquisa incluiu uma pesquisa com quase 100 gerentes de uma variedade de indústrias ao redor do mundo e entrevistas individuais com líderes para entender as melhores práticas. Isso resultou em um relatório, The New Big Circle: Achieving Growth and Business Model Innovation through Circular Economy Implementation.

Aprendemos que a implementação circular envolve várias partes interessadas em diferentes estágios e exige forte colaboração ao longo de todo o ciclo de valor. Embora os desafios sejam diferentes por setor e por empresa, conseguimos extrair dez recomendações para implementar iniciativas circulares.

1. Envolva-se com os stakeholders (partes interessadas) externos

As partes interessadas externas geralmente desempenham um papel importante em levar as iniciativas circulares ao topo da agenda corporativa, portanto, faz sentido ser proativo. Os clientes geralmente têm seus próprios objetivos de sustentabilidade, e mais de 50% dos entrevistados disseram que os clientes eram um dos grupos externos mais influentes. Outros agentes externos influentes incluem agências governamentais e reguladores, ONGs e organizações comunitárias e investidores, que estão adotando cada vez mais a sustentabilidade.

2. Forneça suporte consistente à alta administração

Os entrevistados citaram a alta gerência como a parte interessada interna mais importante para impulsionar iniciativas circulares. Sem a liderança da alta administração, a organização não implantará os recursos financeiros e humanos necessários. O apoio vocal e visível dos líderes também é vital para manter o ímpeto e construir entusiasmo entre as bases. Líderes engajados entendem o potencial relacionamento entre iniciativas circulares – que podem reduzir custos ou desbloquear novos grupos de lucros – e vantagem competitiva.

3. Explique o conceito e comunique a visão

A gerência deve definir claramente para a empresa o que significa “circular”  – tanto estratégica quanto operacionalmente. Isso fundamentará o conceito e facilitará que os gerentes se comuniquem com os funcionários. A explicação deve ser única para todas as empresas e ajudará a promover um entendimento comum em toda a organização. A administração também precisa explicar a estratégia e a lógica.

4. Identifique ambições específicas e desenvolva um business case

De acordo com nossa pesquisa, 81% das empresas com uma estratégia circular também têm um claro business case (caso de negócio) subjacente. Dados os custos mais altos ainda frequentemente associados a atividades circulares, o business case geralmente está fortemente ligado à aquisição de novos clientes, ao fortalecimento de relacionamentos com clientes existentes ou à abertura de novos mercados.

5. Eduque seus funcionários

Particularmente no primeiro ano de mudança, a liderança deve reforçar consistentemente a importância da economia circular com os funcionários, pois são eles que darão vida à visão circular. As empresas precisam apoiar essa formação por meio de treinamento. Por exemplo, funcionários que trabalham em operações precisam de educação em desmaterialização e remanufatura, enquanto aqueles que atuam com projetos precisam ser treinados em design ecológico, reciclabilidade e práticas que estendem a vida útil do produto.

6. Envolver e capacitar unidades de negócios

Embora os departamentos de sustentabilidade possam iniciar e incubar projetos de economia circular (46%), o core business (atividade principal) é responsável por implementar e dimensionar essas iniciativas. Quase metade das empresas em nossa pesquisa relatou que as unidades de negócios assumiram responsabilidade pelo projeto e promoveram mudanças. Para que essa transferência seja bem-sucedida, a alta gerência deve garantir que os departamentos de sustentabilidade envolvam as unidades de negócios desde o início.

7. Comece com a inovação no processo, seguido de inovação no produto e no modelo de negócios

Não faz sentido começar por uma mudança disruptiva. Inovações de processos circulares são frequentemente vitórias rápidas que ajudam a organização a se alinhar em torno da visão circular. Então, com base nessa base de sucesso inicial, é mais fácil explorar novas oportunidades de produto. Somente depois que o pensamento circular estiver bem estabelecido, faz sentido considerar o grande passo da inovação do modelo de negócios – uma área em que até mesmo muitos líderes nesse tema estão lutando para avançar.

8. Colabore com parceiros externos

É preciso um conjunto de habilidades e novas formas de pensar para desenvolver produtos e processos circulares. As empresas mais bem sucedidas não tentam desenvolver ou adquirir todas essas habilidades internamente. Em vez disso, eles colaboram com uma variedade de parceiros externos, de fornecedores a instituições de pesquisa e ONGs. Às vezes, essa colaboração pode até abranger setores. Afinal, o desperdício de uma indústria pode ser a matéria-prima de outra.

9. Defina os Indicadores-chave de Desempenho

A economia circular promete melhor sustentabilidade, competitividade e lucratividade. Mas a única maneira pela qual uma empresa pode provar um business case é ter Indicadores-chave de Desempenho (KPI, na sigla em inglês) corretos para medir o progresso [KPIs são utilizados para medir o desempenho dos processos de uma empresa]. Relatórios regulares, internos e externos, também são importantes para manter a responsabilidade.

10. Faça o bem e fale sobre isso

Quando as iniciativas circulares são realizadas corretamente, elas criam benefícios tangíveis para os negócios e para a sociedade: entre eles, processos mais eficientes, novos produtos e serviços, crescimento e valor agregado da marca. Os produtos e serviços circulares geralmente não suportam um preço premium em relação às ofertas tradicionais; no entanto, o compartilhamento de informações sobre iniciativas circulares pode atrair novos clientes, fortalecer os relacionamentos existentes e satisfazer os investidores.

Muitos executivos estão chegando à conclusão de que a economia circular mudará a forma como os negócios são conduzidos e que isso interromperá os atuais modelos de negócios – e até mesmo setores inteiros. Há pouca dúvida de que o esgotamento de recursos em andamento precisa ser revertido, e também está claro que, em um mundo de recursos cada vez mais escassos, a vantagem competitiva será acumulada para empresas que buscam business cases de economia circular inteligentes.