Nas próximas décadas poderemos testemunhar o lixo deixando de ser um problema e passando a ser disputado a tapa graças às novas tecnologias de revalorização cada vez mais viáveis. Conheça o conceito de economia circular.

Originalmente publicado pelo EcoD

Os pensadores da Economia Circular nos alertam para o óbvio: a crescente escassez de matérias-primas não renováveis elevará o custo a patamares que farão da reciclagem (ou migração para fontes renováveis) uma alternativa mais interessante.

Tão óbvio quanto esse pensamento é a tendência de olhar para o próprio umbigo e pensar “aqui não, meu negócio não será afetado”. Eu mesmo já afirmei que a circularidade absoluta é impossível. Ainda não consigo imaginar, por exemplo, que a tinta de uma embalagem seja separada e utilizada novamente como tinta para outra embalagem.

Mas a minha incapacidade de enxergar um mundo 100% circular não é suficiente para transformar o petróleo num recurso infinito. Em algum momento futuro, mesmo que relativamente distante, nossa sociedade terá que ser capaz de circular tudo aquilo que for necessário para atender as suas necessidades, com exceção das fontes de energia renováveis continuamente abastecidas pela natureza.

Hoje acredito que a circularidade é uma questão de tempo e que temos uma escolha de como e quando chegar lá. Esperar o esgotamento do último recurso não renovável parece não ser a melhor alternativa e não apenas por questões de sustentabilidade, mas avaliando aspectos puramente econômicos. Enquanto algumas empresas repousam sobre modelos atuais, milhares de cérebros brilhantes já buscam novas tecnologias, modelos de negócio e o fomento de hábitos de consumo que façam uso cada vez mais inteligente dos recursos.

Nós, da indústria de embalagem, independentemente de quais materiais processemos, faremos parte dessa transição, tanto nas embalagens que saem de nossas fábricas quanto nos produtos que as utilizam. Os modelos que conhecemos estão sendo alterados. Com tendências como agricultura urbana, e-commerce, entregas por drones e clubes de compra batendo à porta, muitas delas encontram espaço para competir eliminando alguns desperdícios inerentes aos métodos atuais.

Acredito que nas próximas décadas testemunharemos o lixo deixando de ser um problema e passando a ser disputado a tapa graças às novas tecnologias de revalorização cada vez mais viáveis. Um espaço em plena ebulição tecnológica protagonizado por cientistas das melhores universidades e startups.

Cabe a cada um de nós escolher como quer participar dessa transição para a maior circularidade. Minha recomendação é encarar o tema com curiosidade construtiva, questionando dentro de nossas empresas e junto à nossa cadeia (fornecedores e clientes) o que podemos fazer para medir e elevar o grau de circularidade de forma criativa e econômica, usando essa necessidade da humanidade como inspiração para a inovação.

Afinal, agora estamos num momento especial de relativo conforto: enquanto ainda temos recursos podemos escolher não utilizá-los por não mais precisarmos. O que é muito diferente de não utilizá-los porque não estão mais disponíveis ou porque outro arranjo produtivo simplesmente nos tirou do negócio.

Também recomendo valorizar os aprendizados e pequenos ganhos ao longo do caminho. Circularidade total com as tecnologias e modelos existentes é uma utopia. Mas qualquer esforço no sentido correto é válido e pode nos surpreender. Em algumas indústrias a transição pode ser rápida enquanto em outras pode levar gerações.

Emprestando o pensamento do filósofo Lao-Tsé “uma longa caminhada começa com o primeiro passo”. Tenho certeza de que você, que teve interesse suficiente para ler esse artigo até o final, já deu o primeiro passo. Resta convidar que não se deixe levar pelo dia a dia, que planeje o próximo passo, seja ele uma conversa sobre o tema ou a aplicação do “Jogo do Infinito”, recentemente publicado pela ABRE. Para os que decidirem protagonizar a discussão de forma aberta, sincera, desarmada e responsável, o mínimo que se ganha será um maior conhecimento do negócio. Por que não começar?

*Bruno Pereira, é gerente de Marketing para Novos Negócios e Sustentabilidade da Dow na América Latina.