Evento terá a participação de diferentes perfis de profissionais para trazer uma reflexão sobre o mundo dos negócios em perspectivas regenerativas

No próximo dia 1 de agosto, acontecerá a segunda edição de um evento diferente na cidade de São Paulo. É o Humanos de Negócios, organizado por Rodrigo V. Cunha, CEO da agência de relações públicas Profile PR. O objetivo é apresentar e debater novas maneiras – e mais humanas – de se fazer negócios, que gerem transformações positivas na sociedade.

Em 2018, a primeira edição reuniu líderes de empresas de todos os tamanhos, empreendedores sociais, acadêmicos e estudantes para conhecer sobre o projeto e ouvir a histórias de alguns dos entrevistados do livro que será lançado ao final de 2019. As palestras estão disponíveis no canal do YouTube.

Nesta edição, o tema será Regenerar. O evento terá a participação de diferentes perfis de profissionais (pensadores, cientista, médica) para trazer uma reflexão sobre o mundo dos negócios em perspectivas regenerativas e líderes de empresas compartilhando suas histórias de negócios mais humanizados.

Kaleydos entrevistou Rodrigo sobre o evento e o livro, principalmente sobre o que o motivou a criar a iniciativa. Veja abaixo os principais pontos conversados.

Como surgiu a ideia do evento Humanos de Negócios?

Segundo Rodrigo, “a ideia do Humanos de Negócios é mostrar pessoas líderes, referências que estão trazendo novas possibilidades de evolução para as quais a gente precisa olhar e apoiar de diversas maneiras possíveis. Inclusive por via do consumo que é um grande fator de desenvolvimento e influência.”

A criação do evento está relacionado às escolhas que Rodrigo fez em sua vida profissional e pessoal.

Em sua carreira no jornalismo, sempre acompanhou empresas que davam atenção para a responsabilidade social e sustentabilidade. Em 2003, foi convidado pela Endeavor para escrever um livro sobre “como fazer uma empresa dar certo em um país incerto”. Para embasá-lo, entrevistou 51 pessoas. “50 homens e 1 mulher. A gente ainda tem essa discrepância, mas eu entendo que era muito [mais] discrepante”, conta.

No final de cada entrevista, perguntava às pessoas do que elas mais se orgulhavam e do que mais se arrependiam. Todos se orgulhavam das carreiras e das empresas que tinham construído, do aspecto profissional de suas vidas. No aspecto pessoal e familiar, porém, era diferente. “Mais da metade falou com uma voz bem grave de que se arrependiam de não ter visto a sua família crescer, de não ter ficado muito tempo perto dos filhos”.

A decisão por um caminho diferente

Na época, Rodrigo tinha 27 anos e um filho de 10 meses. E pensou: “não quero ir por esse caminho”. Assim, foi buscar outras maneiras de fazer negócios. Ele não queria ser o típico homem de negócios que, segundo ele, “é o cara que tá na capa de uma revista de negócios, com um terno bonitão, um carro lindão, uma conta bancária enorme, querendo cada vez mais, né? Essa busca enlouquecida pelo lucro. E no meio do caminho você deixa de lado coisas importantes, que você vai se arrepender muito lá na frente.”

Em busca de relatos de Humanos de Negócios

Um dia, teve um insight. Ele conhecia muitas pessoas que considera admiráveis, com empresas e negócios e carreiras também admiráveis, que tinham construído as suas carreiras com base em valores. “E daí eu fiz um contraponto na minha cabeça: essas pessoas são ‘humanos de negócios'”. E começou a entrevistar pessoas com esses perfis para poder escrever um livro sobre o assunto. Entre elas, grandes empresários como Guilherme Leal (Natura) e empreendedores de impacto social, como Claudio Sassaki (Geekie) e Maure Pessanha (Artemisia).

“Nas entrevistas, busco entender a motivação, a história das pessoas. De onde que vem essa vontade de transformar. Porque os valores que ela aprendeu na infância, com a família, ao longo da carreira, são importantes para a sua formação. Como isso foi importante na construção dessas carreiras, dessas empresas, como é que eles se apoiaram nesses valores e dilemas importantes quando o canto da sereia chega”.

Surge a ideia do evento

O livro deve ser lançado nesse ano de 2019. Mas em 2018, sua esposa, proprietária de uma empresa de design de eventos, sugeriu realizar um encontro sobre o tema, em vez de esperar o livro ficar pronto. Fizeram um evento para 300 pessoas na Unibes Cultural, que foi um sucesso. Ao final, explicou aos presentes que o mesmo custou R$ 12.000, mas que eles só tinham arrecadado R$ 8.000, e assim bancaram o resto. “No final, tinha gente fazendo cheque. Passando a caneta e dando os valores pra gente, pra poder complementar o valor que custou o evento”.

Esse fato o levou á conclusão de que ele não estava sozinho na busca de novas maneiras, mais humanas, de se fazer negócios.

Segundo Rodrigo, há “uma busca das pessoas em tentar encontrar outros modelos que não sejam tão opressores do ponto de vista da quantidade de horas que você tem que trabalhar, que geram essa enormidade de problemas que a gente tem visto no mundo corporativo, de pressão, ansiedade, até casos bem graves de suicídio. Agora mesmo na França teve na semana passada, os executivos começaram a ser processados porque 35 pessoas já teriam se matado porque não estavam aguentando o ambiente de trabalho. Então eu acho que o modelo que a gente construiu para buscar o lucro a qualquer custo, para dar um retorno a um acionista que a gente não sabe quem é (a maior parte das vezes) está dilacerando uma parte importante da sociedade (…) A gente precisa de novas referências de liderança. Que sejam referências que mostrem que é possível ter um outro caminho que seja mais equilibrado, que leve em conta todos os interesses de todo mundo que está envolvido com a empresa (meio ambiente, funcionários, colaboradores, fornecedores, a sociedade como um todo, não somente o acionista). E aí eu comecei a entrevistas essas pessoas que são as novas referências que a gente precisa”.

Diferença entre os eventos de 2018 e 2019

Há uma evolução no formato do evento de 2018 para o de 2019.

O primeiro evento durou uma manhã. Rodrigo fez uma palestra explicando o conceito em 20 minutos. Depois, convidou dois entrevistados. Foram o Claudio Sassaki (Geekie) e a Maure Pessanha (Artemisia).

“Eles não costumavam falar muito sobre isso, mas são um casal. Se conheceram no processo de aceleração da Geekie pela Artemisia. E falei pra eles: ‘eu preciso contar essa história porque, em geral, quando a gente fala nesse tipo de questão, que é o relacionamento, especialmente amoroso, a primeira reação dos gestores de empresa é falar: ‘não, precisamos colocar essas pessoas em áreas diferentes ou uma dessas tem que sair da empresa.’ Porque partem do pressuposto que as pessoas não sabem se organizar, não têm autonomia para saber separar essa questão. Só que, paradoxalmente, as empresas querem que as pessoas trabalharem 8, 10 horas por dia no ambiente de trabalho. E aí elas ficam uma boa parte da vida delas dentro de um lugar aonde elas conhecem outras pessoas e naturalmente criam afinidade. Então, a decisão nesse caso é para criar essa barreira no relacionamento, para separar. E nós somos animais sociais, a gente tem essa vontade, essa necessidade de se relacionar. Por que a gente precisa limitar isso dessa maneira?”

Aceitando o convite, Claudio e Maure contaram a sua história no palco. Depois tiveram uma palestra de encerramento de Ichiro Takahashi, que é um pesquisador de sabedorias ancestrais, para dizer como que nas culturas antigas as pessoas viviam essa questão da riqueza material versus um caminho de propósito.

Em 2019, decidiram falar mais sobre regeneração. “Que pra mim é a próxima etapa da sustentabilidade. A gente pensa em filantropia, responsabilidade social, sustentabilidade… mas do jeito que está, só manter o que tem, não vai funcionar. A gente precisa regenerar. Então essa pra mim é a próxima etapa de como a gente se relaciona com o equilíbrio das relações entre seres humanos e natureza.”

Na atual edição do evento, os palestrantes vão falar sobre o tema regeneração de diferentes ângulos, mas principalmente sobre como regenerar relações.