Fundador do Baanko explica como aplicar o Canvas Business Model a negócios de impacto

Originalmente publicado por André Lara Resende no LinkedIn

Há algum tempo estamos percebendo como tudo está mudando, principalmente na forma como se faz e na velocidade aplicada a soluções. Hoje vivemos a revolução da informação, onde o acesso à informação que antes dependia de ter uma Barsa, ir a uma aula ou buscar junto com os grandes sábios, agora está disponível e acessível, e não somente em livros (que sem sombra de dúvidas é uma tecnologia fantástica que ao longo dos últimos séculos transformou e continuará a transformar), mas na internet. Agora uma notícia do outro lado do mundo demora segundos para chegar do lado de cá. E recentemente vem se fortalecendo com o conceito de colaboração. Está tudo mais colaborativo, construído a vários braços e em metodologias abertas ao público em geral.

Uma das grandes evoluções que o mundo dos negócios de base tecnológica junto com o mundo do design trouxe pra gente foi a noção de modelo de negócios, que vem substituindo algumas etapas do planejamento de negócios e principalmente mudando a forma como os fazemos.

A performance do Modelo de Negócios é mais devido à relação entre os elementos do que dos elementos em si.

Antes ao pensar em abrir um negócio, a primeira preocupação antigamente era adquirir uma linha de telefone, encontrar um escritório e montar um plano de negócios. Todos estes ainda são muito necessários para se fazer negócios, mas agora em um momento muito mais à frente do início de um. Alexander Osterwalder, um consultor suíço de negócios nos presenteou com o Canvas (conhecido como Business Model Generation), uma ferramenta de reflexão e modelagem de negócios que propõe a construção de forma colaborativa, metodologia que obviamente também foi construída de forma colaborativa envolvendo pessoas do mundo todo validando. Provavelmente nem o próprio Alexander imaginou a proporção da mudança que seu modelo iria trazer para o mundo todo, principalmente no negócios.

A proposta

A proposta é analisar, de forma colaborativa, em uma folha apenas os negócios, e buscar a validação antes de se iniciar investimentos maiores para avançar com o mesmo. Também hoje o Canvas incentiva a buscar renovação de modelos já existentes e uma revisão estratégica de negócios em andamento, sendo ferramenta muito usada em startups, que são negócios iniciantes de base tecnológica, e também buscada por grandes empresas que perceberam a mudança que vem acontecendo e iniciaram os processos em busca de inovar e sair do tradicional.

A proposta é realmente acelerar a forma de se atualizar negócios. Para pequenos negócios iniciantes, poder escalar de forma mais precisa e rápida, e para grandes empresas, achar uma forma de se mudar o rumo para seguir o avanço cada vez mais rápido da tecnologia no mundo e manter seu mercado, sem aumentar os riscos do negócio e sem perder a clientela e mercado já existentes.

A História

Há algum tempo venho envolvido com o mundo do Terceiro Setor, um mercado enorme e ao mesmo tempo com muito propósito, mas que no Brasil é deturpado por poucos que acabam por dar uma visão errada para a população sobre ONGs. Em 2004 entrei como voluntário no início de uma nova ONG de dois amigos, Caetano e Mano, no Rio de Janeiro. Eles precisavam de alguém para fazer o primeiro site da ONG FuteFeliz que tinha como objetivo abrir escolinhas de futebol em comunidades carentes com o intuito de buscar inclusão social através do esporte. Caetano e Mano foram jogadores de times de futebol juniores, e viram como o esporte pode realmente transformar a vida de pessoas e dar esperança. Com o tempo, as ações acabaram se voltando para educação, e hoje a ONG se chama Instituto Um Pé de Biblioteca, com o mesmo objetivo de inclusão social, mas agora através da leitura com o incentivo de bibliotecas em comunidades de alta vulnerabilidade social. Hoje estou como presidente voluntário do Instituto, meu primeiro laboratório de como inovar no terceiro setor, com o objetivo de entender se é possível e como eliminar a barreira existente entre terceiro setor e geração de superavit.

Durante este tempo me formei em engenharia e fui trabalhar em grandes organizações, programa trainee, posições executivas, o sonho padrão de muitos jovens. Mas como bom representante da Geração Y, nunca estava completamente satisfeito, e com o passar dos meses melhorando um setor dentro de uma grande organização, rapidamente queria mais desafios e mais propósito. Neste caminho, ao mesmo tempo que do lado do terceiro setor eu sentia muita falta de organização e gestão como pilares importantes para o amadurecimento dos projetos sociais, que acompanhava no Instituto Um Pé de Biblioteca e outras ONGs e grupos sociais onde me voluntariei, percebia um distanciamento enorme do que as organizações tradicionais tratavam como impacto social ao que realmente acreditava que o era, e assim nasceu uma pergunta:

Como colocar mais gestão nas ONGs e mais social nas empresas com fins lucrativos?

Negócios do setor 2,5

Essa pergunta obviamente já havia tirado o sono de muita gente pelo mundo, e ao pesquisar mais a fundo sobre, descobri um novo mundo, chamado de Setor 2,5 (dois e meio), ou seja, um setor que tinha o mesmo propósito do terceiro setor que era sem fins lucrativos, mas com foco em geração de resultados e formando negócios com fins lucrativos do segundo setor, o setor dos negócios. Um paradigma no Brasil e na minha cabeça ainda era como ganhar dinheiro ajudando os outros sem se sentir um corrupto? Essa noção de que fazer o bem e ganhar dinheiro com isso é errado se dá pela formação e mentalidade (diga-se de passagem muito errada e atrasada) que o Brasil coloca na nossa cabeça com sua formação tradicional, muito pela avaliação errada das pessoas sobre o papel das ONGs. A importância do Terceiro Setor é indiscutível, e essencial para o funcionamento de uma nação, que já é objeto de várias pesquisas pelo mundo e casos reais de países que se transformaram quando perceberam e incluíram na sua cadeia essa noção.

Não diferente de outros mercados, o terceiro setor também vinha se transformando, por necessidade e também por evolução natural, e surgiram variações interessantes do modelo, que são os Negócios Sociais, negócios que geram receitas assim como empresas tradicionais mas que têm como missão gerar impacto social positivo. Esse negócios mudaram a visão do mundo dos negócios, e hoje vemos personalidades como Michael Porter, professor renomado do mundo business de Harvard, ensinando a importância dos negócios ajudarem a resolver problemas sociais e ambientais que existem no mundo, formando Negócios de Impacto Social. A importância da filantropia somada com Negócios de Impacto Social são a solução em prol da busca de um mundo mais resiliente e com desenvolvimento sustentável, que permita o consumo consciente de recursos de forma que permita que as gerações futuras também tenham acesso a estes recursos.

O Nascimento

Pensando nessa evolução, nasceu o Baanko, que tem o objetivo de desenvolver Negócios de Impacto Social. E pra começar um novo negócio, claro, o foco foi a informalidade! Acredito muito que quando órgãos de fomento como o Sebrae incentivarem a informalidade no início das jornadas de Novos Negócios, ao invés de promover criação de novos CNPJ, acharemos um caminho muito mais organizado e propício para fortalecimento de negócios realmente viáveis. Nesse novo negócio o primeiro objetivo foi realizar um programa de identificação de empreendedores sociais e desenvolvimento de Negócios que geram impacto social. Nasceu o primeiro Baanko Challenge, em maio de 2014, após minha participação em um programa da Fundação Estudar que desafia os jovens a tirar as ideias do papel. O primeiro Baanko Challenge foi feito de forma muito colaborativa, muita gente boa apoiando um evento de um final de semana em Belo Horizonte, na sede do programa de startups do Governo de Minas, o Seed. Juntamos ONGs, coletivos, Startups Sociais, Negócios Sociais, parceiros, voluntários e muita vontade de fazer. O produto final foi sucesso, muitos feedbacks legais e uma procura impressionante, essa foi a primeira validação do Baanko. Depois disso fizemos já 8 edições do Baanko Challenge até setembro de 2016 (3 em Belo Horizonte, 2 no Rio, 2 em São Paulo e 1 em Valparaíso no Chile), que é uma execução na prática de economia colaborativa para desenvolvimento e Negócios de Impacto Social com e sem fins lucrativos.

O Canvas Social

Nesse primeiro Baanko Challenge em 2014, após usar algumas vezes o Canvas do Alexander Osterwalder, surgiu a ideia de construir um diferente, focado para Negócios de Impacto Social. Convidei a Renata Horta da TroposLab, que fazia na época a aceleração de startups no SEED, e a Natália Amorim, na época à frente do Instituto Inconformados e com um currículo bem bacana na área social e atuando como voluntária no Baanko Challenge. Dessa conversa, saíram ações para tornar esse projeto em realidade, e no meio da caminho vários outros parceiros e voluntários ajudaram a desenhar o Canvas Social, uma ferramenta de Modelagem de Negócios de Impacto Social que o Baanko usa como ferramenta no desenvolvimento de seus programas e negócios. Importante dar alguns créditos:

Lucas Alves, da empresa Ideia Clara, ajudou com uma análise do Canvas Social e possíveis melhorias

Luiz Othero, trabalhava na TroposLab também e ajudou a desenhar o primeiro protótipo junto com a Renata e a Natália

Marília Cichini, Ilustradora que desenhou o primeiro design do Canvas Social, e fez a base do que conhecemos hoje

Daniel Kialka, design que ajudou a digitalizar o design criado

Pedro Piastrele, designer e fotógrafo que ajudou nas atualizações do produto

Fundação Dom Cabral, que abriu as portas para testarmos a ferramenta em suas organizações do Programa POS (Parceria com Organizações Sociais), que aplicava metodologia de desenvolvimento de negócios em Organizações sem fins lucrativos

Márcio Rabelo, professor da FDC que ajudou a abrir portas, ajudou a melhorar e aplicar o Canvas Social dentro da FDC

Michelle Queiroz, professora da FDC que aplicou a metodologia para capacitações de mobilização de recursos e contribuiu para o Canvas Social

Bairro da Juventude, organização de Criciúma onde testamos o Canvas pela primeira vez para grandes negócios

Childfund Brasil, onde aplicamos o Canvas pela segunda vez, e criamos o foco de aplicar os conhecimentos tratados durante o Canvas Social para planejamento estratégico da organização

– Gerson Pacheco, por abrir as portas, acreditar e incentivar a aplicação do Canvas Social na Childfund

– As mais de 200 organizações que já aplicaram o Canvas Social nos seus negócios e deram feedbacks importantes para a evolução da tecnologia social

– E vários outros que ajudaram de forma pontual mas importante durante as implementações.

De uma forma diferente do Canvas conhecido de Alexander, a percepção da necessidade de outras características quando se fala de Negócios de Impacto Social dentro do Canvas que deu forma ao Canvas Social. Acreditamos que a história do negócio é um dos itens mais importantes de formação do propósito que se destrincha na missão e valores, a importância de entender as características e conhecimento necessários para o negócios pensando em gerar resultados e ao mesmo tempo impacto social, e a análise do Superavit e o que fazer como contrapartida social do negócio, foram pontos chaves e determinantes para o sucesso da ferramenta.

A Tendência do Open Source

Hoje o Canvas é uma ferramenta aberta, que qualquer organização pode e deve aplicar no seu negócio ou seus clientes, para ser construída e melhorada de forma colaborativa e incentivar cada vez mais que a reflexão do propósito se transforme em uma nova forma de se fazer negócios no mundo, de forma menos tradicional e mais sustentável e colaborativa!

Faça o download nesse link da ferramenta e aplique no seu Negócio de Impacto, depois nos mande um email para canvassocial@baanko.com contanto sua experiência para que possamos compartilhar.