Leia as orientações de Cassio Spina, um dos investidores-anjo mais importantes do Brasil, com 25 anos de experiência como empreendedor

Originalmente publicado pelo StartSe

Investidor-anjo renomado, autor de dois livros e ex-empreendedor, Cássio Spina, que estará presente no próximo Invest Class, começou a carreira cedo, abrindo sua primeira empresa aos 19 anos. Depois de 25 anos atuando como empreendedor, Spina tornou-se investidor-anjo, chegando a fundar a Anjos do Brasil, entidade focada em fomentar o ecossistema de investimentos e empreendedorismo, e a Altivia Ventures, empresa de venture capital.

Em entrevista para o StartSe, Cassio Spina contou como fez a transição de empreendedor para investidor-anjo, como é o cenário de atuação para investidores-anjo no Brasil, a diferença entre investidores-anjo e fundos de venture capital e mais!

De empreendedor a investidor-anjo

Spina formou-se em Engenharia Eletrônica, pela Universidade de São Paulo, e dedicou 25 anos da sua experiência profissional empreendendo na área de tecnologia. Segundo ele, sua experiência foi atípica em relação à captação de investimentos: “As primeiras empresas que eu criei foram com recursos próprios, hoje isso é chamado de bootstrap. Eu cheguei a receber investimentos, mas isso aconteceu, principalmente, porque eu fui procurado por investidores”.

Fui criando relacionamentos, sempre conversando e entendendo como [os investidores] olhavam as empresas[…]. Isso me ajudou bastante a entender esse processo.

Foi por meio desses investimentos recebidos que o empreendedor começou a fazer uma rede de contatos com investidores, estudou e não faltou muito para se tornar ele mesmo um investidor-anjo de sucesso. “Tive a oportunidade receber investimento de um fundo de investimentos e fui criando relacionamentos, sempre conversando e entendendo como eles olhavam as empresas e vendo o papel deles. Isso me ajudou bastante a entender esse processo de investimento”, afirma.

De fato, para começar a investir é preciso teoria, que pode ser reforçada por meio de livros e materiais a respeito, e prática. Mas como por em prática o seu conhecimento sem grandes danos? Uma boa forma, segundo Spina, é se juntar a um grupo de investidores-anjo para investir junto com eles e aprender com quem tem mais experiência. Por mais que hoje seja fácil encontrar grupos de investidores-anjo, nem sempre foi assim.

Investimento-anjo no Brasil

Apesar de ter dado os primeiros passos como investidor com a ajuda de outros profissionais da área, Cassio Spina afirma que mesmo naquela época encontrar um investidor-anjo não era tarefa fácil. Não só a prática de investir com recursos próprios não era disseminada, quanto também era difícil ter acesso a informações e a investidores mais experientes ou até a grupos de investimentos. De fato, o investidor revela que quando já tinha mais experiência, muitas pessoas interessadas na prática o procuravam para pedir ajuda.

Esse foi um dos motivos que levou Spina, em 2011, a fundar a Anjos do Brasil, organização sem fins lucrativos voltada para incentivar o investimento-anjo, assim como apoiar o empreendedorismo no Brasil. “Eu percebi que queria ajudar a fomentar esse mercado e a forma que eu achei de fazer isso foi pela Anjos do Brasil”, afirma Cassio Spina.

Cenário atual

Hoje, o cenário para investidores-anjo no Brasil já está melhor: não só há mais informação sobre o tema quanto também o mercado está crescendo. Um bom exemplo é o dado apresentado na 4ª Conferência Nacional da Anjos do Brasil, em 2015, que revela um aumento de 14% no valor aportado em startups entre 2014 e 2015:

Apesar do número de investidores-anjo ter crescido pouco nesse mesmo período (somente 3%), quem já exerce a atividade passou a investir mais. Segundo a pesquisa, a média de investimento médio por negócio foi de R$ 97,5 mil para R$108 mil. Isso pode significar que o mercado de fato está promissor, uma vez que quem já está inserido nele está apostando mais.

Além desses indicadores, um dos fatores que pode ser visto como causa para potencializar ainda mais esse aumento é a Lei Complementar 155/2016. No caso, a lei protege o investidor-anjo em relação a possíveis passivos que a startup possa ter, o que, segundo Spina, era um grande empecilho para possíveis interessados na prática. Outra vantagem para startups é que a mesma lei também prevê que a empresa que recebeu investimentos não é mais obrigada a sair da categoria do Simples Nacional.

Investidor-anjo vs. Fundo de venture capital

A Anjos do Brasil não foi a única empreitada de Cassio Spina no mundo dos investimentos. Um ano após fundar a organização, ele criou a Altivia Ventures, empresa de venture capital com foco no modelo de advisoring, ou seja, o investidor aconselha e atua junto com o empreendedor. Atualmente, ele atua como advisor em M&A para empresas em estágio de crescimento e em Corporate Venture para grandes empresas.

Dito isso, Spina de fato possui uma vasta experiência na área de investimentos e, ao ser questionado sobre as diferenças entre investimento-anjo e fundo de venture capital, ele listou as principais:

Antes de tudo, segundo Spina, é importante deixar claro que ambas as formas de investimento, sejam elas anjos ou gestores, têm interesse que a startup dê certo, por isso farão de tudo para ajudar. Não só isso, como também é do interesse, por exemplo, de investidores-anjo que haja cada vez mais fundos de venture capital e vice-versa. O motivo é simples: para a empresa evoluir, ela precisa começar com um tipo e ter continuidade no outro.

Algumas diferenças entre essas formas de investimento está o fato de que o investidor-anjo é alguém que investe a partir do próprio capital e faz isso como uma atividade complementar, ou seja, ele atua de forma informal. Já o fundo de venture capital conta com um gestor do fundo, que geralmente é um conselheiro formal, cuja profissão é cuidar dos investimentos.

Investindo em startups

É preciso muito mais do que uma boa ideia para captar o olhar de um investidor, ainda mais de um experiente no ramo. Mas o que exatamente é importante priorizar? Cassio Spina afirma alguns pontos principais a serem avaliados são o potencial do negócio, tamanho do mercado, o quão inovador é o produto e o quanto esse produto realmente resolve um problema real.

No entanto, um dos principais, senão o principal, é o empreendedor: “É fundamental ver a capacidade de execução deles, o que eles já conseguiram fazer com recursos próprios, por exemplo. A gente gosta de investir em empreendedores que fazem muito com pouco, pois significa que que essa pessoa tem mais chance de multiplicar seus recursos”.

A forma como isso é feito, ou seja, a metodologia para avaliar startups que valem ou não a pena investir depende de investidor para investidor: “Não há de fato uma metodologia: cada caso é um caso. Não dá para atribuir notas, por exemplo, porque alguns fatores são críticos para o sucesso ou fracasso do negócio”, esclarece Spina. Como resultado, reuniões e discussões entre os grupos de investidores-anjos sobre o potencial do negócio, entre outros fatores, acabam sendo mais determinantes.

E depois do investimento? Como funciona?

Segundo Cassio Spina, ele como investidor-anjo procura apoiar as startups com mentorias e ajudar no que elas pedirem, por exemplo, com contatos, parceiros, ou colaboradores. De resto, o acompanhamento é periódico: “Geralmente, eu procuro fazer um acompanhamento mensal para adequar os resultados e principalmente para dar algumas sugestões e dicas para os empreendedores”.

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