De acordo com Manga, há a necessidade de o mundo evoluir de uma sociedade industrial para uma era sustentável

Originalmente publicado pelo EcoD

É possível conduzir as pessoas à compreensão de que a sociedade é uma rede sistêmica, integrada e em constante movimento? Para Manuel Manga, pioneiro no tema Liderança Evolutiva, uma abordagem que expande o papel do líder nas empresas e sociedade, a resposta é sim, mesmo levando-se em conta que vivemos em um mundo fragmentado, de competição acirrada e individualismo.

Colombiano radicado nos Estados Unidos, com mais de 25 anos de experiência em consultorias e coaching, diretor do Center for Evolutionary Leadership na Califórnia, e antigo professor de Liderança para Mudança no Boston College, Manga foi uma das atrações do segundo dia do Congresso Internacional de Sustentabilidade para Pequenos Negócios (Ciclos), realizado em Cuiabá.

“Hoje, mais do que nunca, os humanos precisam expandir sua capacidade de entender o mundo. Sintam-se convidados a se tornarem líderes evolutivos. É necessário aprendizado e comprometimento, o que todos aqui podem fazer”, afirmou o convidado internacional na abertura de sua palestra, na sexta-feira, 7 de julho. Boa parte do público do evento é formada por micro e pequenos empresários.

Para Manga, que trabalha com o tema liderança há 35 anos em organizações de todo o mundo, a sociedade precisa de um novo tipo de líder. “Tem que ser uma liderança com propósito. Não é qualquer tipo de liderança que vai ser capaz de nos levar para a transição rumo a era da sustentabilidade”, reforçou.

O professor citou três características básicas de um líder evolutivo. São elas:

• Os líderes evolutivos declaram uma visão de futuro (exemplo: eu quero uma cidade sustentável);
• Constroem negócios sustentáveis;
• Fazem escolhas difíceis (em escala local, nacional ou global).

De acordo com Manga, há a necessidade de o mundo evoluir de uma sociedade industrial para uma era sustentável. “Não estamos fazendo isso hoje. Estamos comendo o planeta. Compramos um monte de plástico e, em seguida, simplesmente jogamos fora. Isso não é sustentável”, criticou. “Precisamos nos tornar cidadãos ecológicos.”

Redes sistêmicas

Simpático à ideia de conexões em redes, defendidas pelo amigo físico Fritjof Capra – autor de best-sellers como “O Tao da Física” e “A Teia da Vida” – Manga observou que os líderes que temos hoje não costumam pensar de forma sistêmica. “É bem perigoso isso, pois tal ignorância pode nos levar a catástrofes”, alertou.

“Há quem pense a sustentabilidade apenas sob a ótica ecológica: árvores, animais, Amazônia… Na minha opinião, precisamos cuidar da sustentabilidade humana, ambiental e institucional.”

Segundo o professor, as ameaças que a humanidade enfrenta, atualmente, são sistêmicas na natureza. “Mudanças climáticas, recursos naturais escassos, extinção da biodiversidade, produção de lixo tóxico, que acaba contaminando o solo”, exemplificou.

Líderes diferentes

Mas o que, afinal, diferencia um líder tradicional, seja nas organizações ou em governos, de um líder evolutivo? “O líder tradicional mantém a ambição em silêncio, somente para si; já o evolutivo é capaz falar, envolver e comprometer-se com uma causa. Já o líder evolutivo, em contrapartida, tem a habilidade de ouvir, gerar colaboração e empoderar as pessoas. Seu poder é compartilhado com o outro. Não pensa ter todas as respostas, pois acredita no poder da inteligência coletiva, onde cada pessoa contribui e as soluções são encontradas em conjunto”, explicou Manga.

O professor lembrou que vivemos em um mundo capitalista, de consumo, que demanda dinheiro e tem um custo de vida alto. “E essa mudança deve ser tanto interna quanto externa, precisamos de uma comunidade de apoio. O indivíduo muda e o todo acaba mudando também. É uma construção em longo prazo, mas necessária para vivermos em um mundo melhor.”