Do EcoD

Um grupo de amigos chega ao McDonald’s da Rua Henrique Schaumann, no bairro Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. É terça-feira, 7 de agosto, por volta das 13h. Os jovens pedem os lanches para a atendente que, alguns minutos depois, retorna com as bandejas compostas por hambúrgueres e sucos. Em seguida, ela anuncia: “não trouxe os canudos plásticos porque estamos em uma campanha que busca conscientizar sobre a real necessidade de utilizar esse tipo de produto”. As pessoas da mesa fazem um sinal de aprovação e partem para as suas refeições. Tem sido assim desde o início de agosto, quando a rede de fast-food anunciou que deixaria de entregar espontaneamente os canudos plásticos aos clientes brasileiros.

Depois do Brasil, o McDonald’s vai expandir a iniciativa para outros países da América Latina nos próximos meses. No Reino Unido e Irlanda, a empresa decidiu banir os canudinhos plásticos a partir de setembro. A ação visa reduzir a quantidade de poluição plástica no mundo. Só nos Estados Unidos, 500 milhões de canudos são usados e descartados diariamente. Apesar de ter uma vida útil de dez minutos – o tempo que se gasta para tomar um refrigerante –, ele chega a demorar 400 anos para se decompor na natureza.

“Antes nós entregávamos o canudo na mesa do cliente, e isso deixou de existir. Os funcionários estão interagindo com os clientes, informando sobre essa campanha. O canudo é algo pequeno em relação aos problemas relacionados às embalagens plásticas, mas tem uma representatividade muito grande nessa discussão, se não pelo seu potencial (tamanho do produto), mas pela mensagem que passa. Estamos fazendo a seguinte pergunta: será que você precisa mesmo?”, explica Paulo Camargo, presidente da Arcos Dorados, operadora do McDonald’s no Brasil e na América Latina.

Em entrevista coletiva realizada ontem (7), em São Paulo, o executivo destacou que, como líder de mercado, o McDonald´s tem um grande potencial para ampliar essa ação de sustentabilidade, que já é seguida por organizações como Starbucks, AccorHotels e Disney. “Queremos dar o exemplo nesse sentido”, acrescentou. Segundo Camargo, a aceitação dos clientes acerca da iniciativa tem sido a melhor possível. “Em média, 90% aprovam a dispensa do canudo plástico”, comemora.

Vídeo na internet

Há três anos ‘viralizou’ na internet o vídeo de uma tartaruga que tinha um canudinho entalado nas narinas. No Brasil, a produção de canudos plásticos foi de 2.800 toneladas em 2015, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para beber sem canudo basta tomar o líquido diretamente do copo ao retirar a tampa.

O diretor de Desenvolvimento Sustentável da Arcos Dorados, Leonardo Lima, afirma que o canudo é apenas uma parte do problema. “É absurda a quantidade de resíduos sólidos que as pessoas estão, simplesmente, destinando nas ruas. A nossa opção como empresa de marca é: ok, estamos lidando com a questão do canudo. Ele é uma preocupação da sociedade, mas o problema não é somente o canudo. Um canudo biodegradável pode levar de 18 a 24 meses para se decompor no meio ambiente”, pondera.

Problema mundial

A indústria do poliestireno colabora para a poluição dos ecossistemas e ameaça a sobrevivência de animais em risco de extinção, como algumas das espécies de tartarugas marinhas e peixes. Desde que a produção de canudinhos em larga escala teve início, nos anos 1960, estima-se que vaguem por aí, como detritos, 8,3 bilhões de toneladas de objetos feitos de plástico. Além disso, o canudo de plástico é de difícil reciclagem e já representa 4% do lixo plástico mundial.

O presidente da Arcos Dorados no Brasil admitiu que a empresa ainda desconhece uma solução para o problema, mas garantiu que irá medir esforços para encontrar alternativas sustentáveis ao uso de plástico em parceria com outras empresas e organizações.

Leis no Brasil

No Rio de Janeiro, foi aprovado recentemente o Projeto de Lei nº 1691/2015, de autoria do vereador Jairinho (MDB), que “obriga os restaurantes, lanchonetes, bares e similares, barracas de praia e vendedores ambulantes do Município do Rio de Janeiro a usar e fornecer a seus clientes apenas canudos de papel biodegradável e/ou reciclável individualmente e hermeticamente embalados com material semelhante.” Quem descumprir a lei e insistir no uso de canudos de plástico descartáveis estará sujeito a multa no valor de R$ 3 mil – que será dobrada em caso de reincidência.

Um Projeto de Lei semelhante tramita no Senado desde o final de maio, fruto de uma ideia legislativa que pede a proibição da distribuição de canudos e sacolas plásticas, assim como dos microplásticos em cosméticos. O PL nº 263, de 2018, aguarda designação de um relator na Comissão de Meio Ambiente. É possível opinar enquanto a matéria tramita no Senado. Outro projeto em tramitação prevê a retirada gradual do plástico da composição de pratos, copos, bandejas e talheres descartáveis.